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Carolina Ribeiro

(Tatuí, 1892 – São Paulo, 1982)

Carolina Ribeiro, professora primária, destacou-se ao ocupar cargos administrativos em âmbito municipal e estadual em São Paulo. Foi militante das causas educacionais e feministas e teve carreira política.

Participou ativamente como membro de grupos de orientação católica: Liga do Professorado Católico e Liga das Senhoras Católicas. Segundo Ana Regina Pinheiro (2011), defendeu as tradições e a escola, símbolo do pioneirismo que representava o ensino paulista para esses grupos.

Na área educacional, formou-se como professora primária em 1907 pela Escola Normal Peixoto Gomide, em Itapetininga-SP, e iniciou sua carreira no ano seguinte, na Escola Modelo, anexa à Escola Normal da mesma cidade. Essa escola parece ter marcado a trajetória de Carolina Ribeiro. Dentre os álbuns fotográficos encontrados no Acervo da Escola Caetano de Campos, encontra-se o Álbum fotográfico do Colégio Estadual e Escola Normal Peixoto Gomide, Itapetininga-SP, composto e enviado à Escola Caetano de Campos provavelmente em 1946, como presente pessoal à Diretora Carolina Ribeiro, por ocasião das comemorações do 1º. Centenário do Ensino Normal em São Paulo (ABDALA, 2013, p. 91).

Em 1913, iniciou seu trabalho na capital do estado, no Grupo Escolar Maria José, onde criou e dirigiu o Jornal das crianças, sua primeira iniciativa no que se refere a publicações escolares. Lecionou ainda Escola Normal do Brás, onde assumiu a cadeira de português, em 1920 e 1921. Em 1923 iniciou a carreira de diretora, organizando o Grupo Escolar Católico São José, localizado no Ipiranga. Dirigiu também o Grupo Escolar Erasmo Braga, em 1932. De 1935 a 1948 dirigiu a Escola Primária anexa ao Instituto de Educação (nova denominação da Escola Normal da Praça da República), auxiliando Fernando de Azevedo, então diretor do Instituto de Educação.

Na Escola Caetano de Campos, que se tornou referência de educação primária em São Paulo, e na qual permaneceu por mais de uma década, a educadora incentivou diversas atividades dos docentes e criou, em 1936, juntamente com Iracema Silveira, o Jornal da Escola Primária, denominado Nosso Esforço. Esse jornal escolar, realizado durante décadas, consolidou-se como uma prática educacional, mas também se alinhou à tendência de criação de jornais escolares e demais periódicos educacionais como estratégia para o registro e a difusão de ideias educacionais.

Ana Regina Pinheiro (2000, p. 47) define o jornal Nosso Esforço como uma atividade extracurricular da escola primária. Como afirma Regina Pinheiro (2000), não fugia às orientações gerais que fundamentavam esse tipo de projeto, revelando preocupação com a linguagem considerada infantil. A prática da elaboração de jornais escolares não era, nesse período, uma inovação pedagógica. O que surpreende, no caso do jornal Nosso Esforço, é a sua longevidade, pois chegou a completar Jubileu de prata em 1961, e a relação que promoveu com os alunos.

Em seu extenso período de existência, o Nosso Esforço constituiu um significativo espaço de experiências para os alunos envolvidos. Na sua direção e redação sucederam-se gerações de alunos do Curso Primário. A participação direta dos alunos na elaboração do jornal pode também ser percebida pelo fato de que, desde a sua criação, ele era dirigido por um dos alunos, com supervisão de Iracema da Silveira, e os alunos que participavam da produção do jornal eram denominados de “jornalistas” (ABDALA, 2013, p. 74).

Para Regina Pinheiro (2000, p. 21), “Desde o primeiro ano de sua existência, em 1936, o jornal Nosso Esforço se revelou um importante veículo da escola para a prática pedagógica e a difusão da cultura escolar”. O jornal tratava de assuntos pertinentes ao ambiente escolar e às atividades nele desenvolvidas, e preocupava-se em dar visibilidade à prática escolar que o produzia. Desse modo, pode-se afirmar que publicações escolares similares exerceram importante papel na organização, afirmação e realização das práticas escolares e na visibilidade dessas práticas e das instituições nas quais se desenvolviam (ABDALA, 2013, p. 81).

Em 1939, com a extinção do Instituto de educação, Carolina Ribeiro assumiu também a direção da Escola Normal Caetano de Campos, acumulando o cargo de diretora da Escola Primária. Sua liderança e autoridade eram respeitadas, tanto por seus aliados quanto pelos adversários que enfrentava com seus discursos. A autoridade que seu cargo lhe conferia legitimava suas ações. (PINHEIRO, 2008).

Na carreria política concorreu, em 1945, a uma cadeira de deputada na Câmara Federal, na primeira eleição do período de redemocratização, após o período do Estado Novo. Destacou-se no cenário educacional como uma liderança, chegando, em 1955, a ser a primeira mulher a ocupar o cargo de Secretária da Educação, em São Paulo, por convite do então governador Jânio Quadros.

A educadora atuou em outras frentes, não se restringindo à área educacional. Dirigiu os serviços de assistência às famílias dos combatentes da revolução de 1932 e incentivou, na escola primária, as campanhas contra a tuberculose, os serviços de atendimento às crianças carentes e voltados à orientação às suas famílias, como o Serviço do Lanche Sadio e o Centro de Puericultura, denominados “instituições auxiliares da escola”.

Foi uma reconhecida oradora e autora de letras de hinos, como o Hino da Cruz Vermelha Brasileira, o Hino das Normalistas e o de despedida dos pracinhas. Escreveu também poesias infantis, comédias e alegorias. Sobre aspectos educacionais, publicou as obras: A Educação extraescolar, Centenário do Ensino Normal – Poliantéia e O Ensino em São Paulo através da História. Sobre ela se escreveu que “[...] desbravou a hierarquia educacional”, tal qual uma bandeirante. A produção intelectual de Carolina Ribeiro engloba ainda entrevistas a jornais de grande circulação, conferências, palestras e artigos publicados em revistas de educação e de filiação católica (PINHEIRO, 2008).

Grande parte das ações de Carolina Ribeiro à frente da direção da Escola Caetano de Campos estão registradas nos documentos do acervo que foi preservado e constituído a partir de uma intenção de memória e registro das práticas dessa escola que se revestia de caráter modelar da educação. Carolina Ribeiro recebeu diversos prêmios e homenagens, e um dos principais foi o Prêmio Roquete Pinto, em 1978, como educadora emérita. Faleceu em 1982.

 

A produção existente em História da educação sobre a educadora

Apesar do destaque que alcançou como autoridade na educação no Estado de São Paulo, como dirigente da Escola Caetano de Campos e, posteriormente, como Secretária Estadual de Educação, há poucos trabalhos acadêmicos sobre Carolina Ribeiro. Ana Regina Pinheiro produziu recentemente um artigo, publicado na Revista Colombiana de Educación, especificamente sobre a educadora, intitulado “Memória herdada. A educadora Carolina Ribeiro e o vanguardeiro ensino paulista”. Esse artigo aborda aspectos que podem ser considerados centrais na carreira de Carolina Ribeiro: a formação para o magistério; a carreira docente na educação primária; o que a autora denomina de “vocação bandeirante” ao referir-se à relação da educadora com a educação paulista; a atuação como dirigente e sua inserção na política educacional; e, por fim, suas atuações vinculadas à Igreja Católica.

Em sua tese, defendida em 2008, Ana Regina Pinheiro estuda práticas de educadores paulistas realizadas na Escola Caetano de Campos. Entre essas práticas, destaca a experiência  do jornal escolar criado por Carolina Ribeiro em conjunto com Iracema da Silveira, o jornal Nosso Esforço, que também foi tema de sua dissertação de mestrado, defendida em 2000.

Rachel Duarte Abdala, na tese defendida em 2013, enfoca as fotografias escolares a partir do amplo acervo da Escola Caetano de Campos, resultante da intenção de se produzirem registros das práticas modelares realizadas na escola. Esse acervo é composto de álbuns fotográficos elaborados na própria escola e caracterizados como artesanais, em contraponto aos profissionais, produzidos por fotógrafos e estúdios fotográficos especializados. A autora estudou a participação central de Carolina Ribeiro na criação do jornal Nosso Esforço e no registro dessa prática inovadora, uma narrativa sobre essa experiência que foi institucionalizada na escola.

 

A carreira de Carolina Ribeiro na Educação engloba diferentes vieses e cargos que lhe permitiram propor e realizar práticas educacionais inovadoras e, como dirigente escolar e como Secretária de Educação, incentivar e apoiar práticas e iniciativas similares.

 

Palavras-chave: Administração escolar; Escola primária; Autoridade educacional; Jornal escolar

 

Bibliografia:

 

Abdala, Rachel Duarte (2013). Fotografias escolares: práticas do olhar e representações sociais nos álbuns fotográficos da Escola Caetano de Campos (1895-1966). Tese de doutorado. Faculdade de Educação, Universidade de são Paulo.

Legris, Wilma (2016). Carolina Ribeiro: autoridade no ensino paulista. Disponível em: https://ieccmemorias.wordpress.com/2012/08/13/carolina-ribeiro-autoridade-no-ensino-paulista/ Acesso em: 14/10/2016

Pinheiro, Ana Regina. (2000). A imprensa escolar e o estudo das práticas pedagógicas: o jornal "Nosso esforço" e o contexto escolar do curso primário do Instituto de Educação (1936/1939). PUC-SP, São Paulo, SP, Brasil.

_____ (2008). Escola Caetano de Campos: Escola Paulista, Escola Vanguardeira. UNICAMP, Campinas, SP, Brasil

_____ (2011). Memória herdada. A educadora Carolina Ribeiro e o vanguardeiro ensino paulista. Revista Colombiana de Educación (61). Bogotá, Colômbia. pp. 141-159.

 

Arquivos:

Centro de Memória e Acervo Histórico/CRE Mario Covas/EFAP

 

Autoria: Rachel Duarte Abdala

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