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Ilka Brunhilde Laurito (São Paulo, 10/07/1925 – Corumbataí, 11/12/2012)

O nome de Ilka Brunhilde Laurito surge neste projeto devido às atividades realizadas por essa professora no que diz respeito aos usos do cinema como recurso pedagógico. Mais conhecida como escritora, principalmente, pelos livros “A menina que fez América” (1989) e “A menina que descobriu o Brasil” (1994) publicados por editoras de grande circulação nas escolas, pouco se sabe sobre sua atuação como docente.

 

Foi aluna do Instituto de Educação Caetano de Campos em São Paulo (IECC), onde atuou como redatora-chefe do Jornal Nosso Esforço sob coordenação da professora Iracema Marques da Silveira. No acervo histórico da instituição é possível encontrar artigos de sua autoria e fotografias nas quais ela aparece junto de outros colegas que também participaram do jornal.

 

Possivelmente, a experiência com a escrita nos tempos do IECC estimulou a cursar Letras. Licenciou-se pela Universidade de São Paulo em 1949. Durante sua formação acadêmica e nos primeiros anos como professora no interior de São Paulo, não deixou de visitar a escola que frequentou na infância, lugar de referência na educação pública paulista. Em 1947, publicou seu primeiro livro de poesias “Caminho” e ao comparecer às comemorações do 10º aniversário do jornal Nosso Esforço recebeu homenagens de suas ex-professoras.

Em 1954, Ilka foi uma dos muitas espectadoras nos eventos do I Festival de Cinema de São Paulo, incluído no conjunto das comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo. Ao longo da programação ocorreu também o Festival de Cinema Infantil que contou com a coordenação de Sonika Bo, fundadora do Ciné-Clubs d’enfants Cendrillon de Paris. Foram exibidos filmes selecionados por Bo, dentre os quais dois produzidos por ela. No evento esteve presente o diretor Norman Maclaren que “realizou palestras sobre seus filmes e deu demonstrações sobre as técnicas revolucionárias por ele criadas para o filme de animação” e o especialista em filmes científicos Jean Painlevé. Esse foi um momento importante para despertar o interesse de Ilka Laurito nas conexões entre cinema, infância e educação (CORREA JUNIOR, 2010, pp. 264-265).

 

Em 1960, buscou filmes no Centro de Ciências, Letras e Artes em Campinas (CCLA) para projetar para seus alunos do Instituto de Educação Carlos Gomes. Procurando investir nessa prática, fundou em março de 1961, o Cineclubinho do CCLA promovendo sessões de filmes e debates com público infanto-juvenil que tinha entre suas finalidades “formar um público jovem ativo, com espírito crítico” (LAURITO, 1961 apud CORREA JUNIOR, 2010, p. 271).

 

Em relatório, a professora descreve a organização e os métodos de trabalho do cineclubinho. A organização previa a existência de sócios fundadores que seriam os alunos do I.E.Carlos Gomes, mas também era aberta a participação de outros sócios que podiam ser familiares, amigos e colegas de outras escolas. A direção do cineclube era escolhida entre os fundadores e orientador e era constituída por presidente, vice-presidente, secretário, arquivista, operadores, desenhistas e redator. A programação era supervisionada pelo orientador que deveria assistir os filmes antes da projeção para as crianças ou que deveria avisá-las caso não fosse possível assistir antes, que a sessão seria “às escuras” e que elas teriam que colaborar para avaliação (Idem, pp. 274-278).

 

No projeto, para a professora Ilka era essencial que as crianças desenvolvessem o espírito crítico e tivessem consciência de que estavam participando de uma experiência da qual eram parte fundamental. De certa forma, ela repetia os ensinamentos que teve durante os anos de estudante no IECC e na sua participação como redatora do jornal Nosso Esforço, exemplo de projeto nos moldes de uma escola ativa.  

 

Durante esse período, iniciaram as trocas com outras pessoas ligadas à realização de filmes e estudos sobre cinema. Passou a frequentar a Cinemateca Brasileira em São Paulo localizada no Museu de Arte Moderna (MAM) em busca de referências teóricas e filmes. Ela pretendia também que as crianças tivessem a oportunidade de tomar consciência do que seria uma “biblioteca de filmes” (Idem, p. 273).

 

Em virtude da inexistência de materiais dessa natureza na Cinemateca, Ilka foi convidada a coordenar o projeto de Difusão para Infância. Realizou levantamentos de filmes nos consulados e filmotecas comerciais (da Mesbla, Fotóptica, Polifilmes, de cias de aviação como Scandinaviam e Pan-american, e de exploração de petróleo como a Esso e Shell), além disso, trocou correspondência com pesquisadores de outros cineclubes do Brasil (Belo Horizonte e Santos) e exterior (Portugal, Argentina, Canadá, França, Bélgica, Dinamarca, Áustria, Noruega, Hungria, Finlândia, Alemanha, Índia e outros).

 

Nesse período de atuação na Cinemateca, voltou a sua antiga escola onde realizou sessões de cinema para turmas de diversas faixas etárias que levou a fundação do Cineclubinho na Biblioteca Infantil Caetano de Campos e ao uso de filmes por outros professores da instituição (ABREU, 1999).

 

Nas sessões coordenadas pela professora Ilka nas diversas instituições, era utilizado um método para que os alunos e os adultos presentes pudessem documentar seus conhecimentos prévios e sentimentos e avaliações sobre as atividades. Para isso, eram distribuídos questionários. Para as crianças, as perguntas em geral eram sobre quais os filmes preferidos, requisitavam sugestões para as sessões, se havia alguma crítica referente a um filme visto na cidade, se assistiam televisão ouviam rádio ou discos e quais os artistas prediletos. Para os adultos, era requerida a observação das reações e formas de participação dos alunos. No acervo da Cinemateca Brasileira, é possível localizar alguns desses materiais, incluindo desenhos e redações realizadas pelos participantes das sessões de cinema.

 

​Ilka promoveu palestras, debates e sessões em outras instituições como no Colégio Brasil-Europa e na Escola Estadual Prof. Alberto Comte. Ela estabelecia uma programação e critérios para nortear sua prática voltada à educação cinematográfica e por meio do cinema, documentada em relatórios e publicações temáticas sempre salientando a importância do reconhecimento do olhar e opinião dos alunos.

 

Em 1964, fez um estágio na Europa com bolsa de estudos concedida pelo British Film Institute. Ela acompanhou as programações dessa instituição e da Children’s Film Foundation, Society Film Teachers, Educational Television BBC e do Center for Educational Television Oversea. Em seguida, foi a França onde pode conhecer de perto o trabalho feito por Sonika Bo.

 

As atividades de pesquisa e promoção de sessões de filmes persistiram até os anos iniciais da Ditadura Militar, quando o acesso aos filmes e a troca de contatos ficou dificultada pela falta de recursos econômicos e intensa repressão. Apesar disso, Ilka nunca desistiu de colocar em prática seus muitos projetos educativos ligados à promoção do cinema para o público infanto-juvenil. Os registros documentais indicam a tentativa de elaboração de um projeto de filmoteca central e para periferias de São Paulo em 1966 e a participação da professora Ilka como conselheira da instituição de 1978 a 2005 (LARA, 2015, pp.137-138).

 

Nesses anos, continuou trabalhando como professora no ensino secundário e também no superior e como cronista em jornais e escritora. Também participou ativamente de movimentos de divulgação literária como “Poesia na Praça” e “Poetas na Praça”, em 1969 e 1975. Ao todo, ela recebeu três prêmios Jabutis, um na categoria poesia com “Canteiro de Obras” e os outros dois em literatura infanto-juvenil pelos livros já citados no início deste texto.  

 

A produção existente em história da educação sobre a educadora

 

Ailton B. Abreu (1999) pesquisou sobre o cinema na Escola Caetano de Campos e destaca em sua dissertação que o projeto desenvolvido por Ilka nos anos 1960 na Biblioteca Infantil marca um período de impulso do uso dos filmes dentro dessa instituição.

 

O livro de Fausto Douglas Correa Jr (2010) sobre a história da Cinemateca Brasileira de sua fundação até o período da Ditadura Militar apresenta como anexo um histórico do trabalho de Ilka no Departamento Infantil e um dos relatórios escritos pela professora. O pesquisador chama atenção para a “importância dessa experiência no escopo mais amplo do projeto da Cinemateca” e a existência de documentação no arquivo histórico.

 

Maria Paz Lencinas (2015) desenvolveu um estudo comparado da narrativa literária de Ilka B. Laurito e João Antônio. A pesquisadora aponta influências da linguagem cinematográfica na escrita literária produzida pela professora e escritora.

 

No mesmo ano, Thaís Vanessa Lara (2015) publica sua dissertação sobre as ações educativas na Cinemateca. Trata-se de um estudo que tem o trabalho da professora com o cinema como eixo central para o estudo do cineclubismo infantil fora e dentro do Brasil.

Palavras-chave: cinema; educação; infância; cineclubismo.

 

Bibliografia:

 

ABREU, Ailton Bustamante. Escola e cinema: o cinema educativo na escola Caetano de Campos em São Paulo entre os anos 30 e 60. Dissertação em História, Política e Sociedade da PUC-SP. São Paulo, 1999.

 

CORREA JÚNIOR, Fausto Douglas. A Cinemateca Brasileira: das luzes aos anos de chumbo. São Paulo: UNESP, 2010.

 

LARA, Thaís Vanessa. Cinemateca Brasileira: Cinema, Educação e Inclusão Social. As ações educativas do Departamento de Cinema Infanto-Juvenil (1954-1966). Dissertação em Multimeios do Instituto de Artes da UNICAMP. Campinas, 2015.

 

LENCINAS,  Maria Paz. Imagens escritas, letras enquadradas: literatura e cinema em Ilka B. Laurito e João Antonio. Dissertação em Literatura e Vida Social da UNESP. Assis, 2015.

 

Arquivos:

 

Acervo Histórico da Escola Caetano de Campos

 

Cinemateca Brasileira

 

Autoria: Fernanda Franchini.

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