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Noemy da Silveira Rudolfer

(Santa Rosa de Viterbo, 1902 - São Paulo, 1980)

Noemy Marques da Silveira (Santa Rosa de Viterbo, SP, 1902 – São Paulo, SP, 1980) ou Noemy da Silveira Rudolfer, nome que assumiu após se casar com o engenheiro Bruno Rudolfer em 1934, é uma figura de grande relevo no campo da psicologia aplicada à educação. Foi referência importante na primeira metade do século XX no cenário brasileiro pelos seus estudos que dialogavam com o que havia de mais moderno no cenário internacional em psicologia educacional.

Formou-se normalista na Escola Normal do Bráz, em 1918, e lecionou no ensino primário nos primeiros anos de atuação profissional. No início dos anos 1920 começou a trabalhar na Escola Normal Caetano de Campos, período em que iniciou parceria duradoura de trabalho com Lourenço Filho, sendo assistente da cadeira de Psicologia e Pedagogia da qual Lourenço era professor. Em 1930 esteve nos Estados Unidos com um grupo de brasileiros, em viagem de estudo promovida pela Associação Brasileira de Educação, durante a qual estudou a orientação profissional e educacional em diferentes cidades daquele país. Posteriormente, conseguiu bolsa de estudo para o Teachers College, Columbia University, iniciando os cursos no segundo semestre de 1930, no entanto, permaneceu apenas um semestre, retornando ao Brasil a pedido de Lourenço Filho para ajudar na reforma da educação paulista que ele iniciava ao assumir o cargo de Diretor-Geral do Ensino de São Paulo.

Durante a gestão de Lourenço Filho, Noemy dirigiu o Serviço de Psicologia Aplicada. Demitiu-se em 1932, quando Sud Menucci assumiu a Diretoria Geral de Ensino. Voltou ao cargo a convite de Fernando de Azevedo, em 1933, quando este assumiu a Diretoria.

Foi professora da cadeira de Psicologia Educacional no Instituto de Educação da Universidade de São Paulo (IEUSP) durante a direção de Fernando de Azevedo, até 1938 e, com a extinção do IEUSP, foi transferida para a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo, onde atuou até a sua aposentadoria, em 1954. Durante os anos que esteve na FFCL, e após sua aposentadoria, se aproximou das áreas de sociologia, psicologia clínica e psicanálise.

Teve vasta produção bibliográfica, entre artigos, livros e traduções. Um dos seus trabalhos mais lembrados é o livro “Introdução à psicologia educacional”, publicado em 1938 pela Editora Nacional. O livro é uma adaptação de sua monografia “A evolução da psicologia educacional através de um histórico da psicologia moderna”, defendida em 1936 em concurso para assumir a cadeira de Psicologia Educacional do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo. Em 1961 o livro estava em sua sexta edição.

Traduziu livros de educadores renomados, como: “Educação para uma civilização em mudança” de William Heard Kilpatrick, em 1933; “A lei biogenética e a escola activa” de Adolphe Ferrière, em 1929, ambos pela editora Melhoramentos; “Psychologia para estudantes de educação” de Arthur I. Gates, em dois volumes, 1935 e 1939, pela editora Saraiva.

Para além da FFCL, lecionou na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo e ministrou cursos em universidades sul-americanas, em países como Chile e Paraguai. Foi atuante e diversos movimentos e associações, tendo participado da criação da Sociedade de Sociologia de São Paulo, Associação Paulista de Psicologia, dentre outros. Ainda, fez parte da comissão designada para discutir o Plano Nacional de Educação em meados dos anos 1930.

A época em que Noemy nasceu e na qual se deu sua educação foi fortemente marcada pelos estudos educacionais que buscavam respaldo nas ciências, com base na experimentação e quantificação, e onde a psicologia aplicada à educação ocupou espaço de destaque, inclusive com a criação da disciplina “Psicologia Educacional”.

O final do século XIX e início do XX é marcado por uma preocupação em estabelecer bases científicas para a educação, buscando sustentação na psicologia de bases experimentais e na estatística. Essa tendência mundial teve forte impacto entre os educadores brasileiros, que queriam se alinhar com o que havia de mais moderno no mundo, principalmente nos países que eram tidos como referência em termos de pesquisas e modelos pedagógicos. Entre outros desdobramentos, o movimento dos testes ganhou espaço no Brasil, e refletiu na criação de laboratórios de psicologia e na realização de amplos estudos. A criação de laboratórios de psicologia experimental e departamentos de testes e medidas não raro se associavam a instituições de formação de professores primários, como as escolas normais do Rio de Janeiro e de São Paulo, alçadas a Institutos de Educação nos anos 1930, ou a Escola de Aperfeiçoamento de Belo Horizonte.

O intercâmbio intelectual com outros países, principalmente na Europa e EUA, desempenhou importante papel na circulação das discussões em psicologia aplicada à educação e moldou em grande medida os trabalhos nos laboratórios brasileiros.Esse intercâmbio intelectual ocorria tanto por meio do diálogo com a literatura internacional mais atual, quanto por meio de viagens de estudo, tendo como principais destinos os EUA, com o Teachers College/Columbia University. As viagens que Noemy fez aos EUA, assim como os contatos que estabeleceu com educadores e pesquisadores da área de psicologia, tanto estadunidenses como europeus, se revelam fortemente em sua atuação, nas temáticas às quais se dedicou e em suas publicações.

Noemy Rudolfer é um exemplo de inovação no ensino tanto como professora formadora de professores quanto como pesquisadora. Incentivava a autonomia dos alunos por meio de debates e desenvolvimento de atividades práticas e trabalhos de campo e defendia a incorporação dos princípios da escola nova na atuação dos professores do ensino superior.

Enquanto pesquisadora, fez parte de uma vanguarda que defendia a psicologia aplicada à educação, tratando de pautas como a adoção dos testes de inteligência na escola elementar, a homogeneização de classes, a criação do serviço de orientação profissional e a importância da psicologia educacional na formação de professores.

No contexto das primeiras décadas do século XX, Noemy é um exemplo de novos espaços que as mulheres estavam conquistando, exercendo cargos de chefia à frente do laboratório de psicologia e ocupando papel de destaque enquanto referencia nacional nos estudos sobre psicologia educacional. Ainda, é importante destacar que foi signatária do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, documento que conta com 26 assinaturas, das quais apenas três mulheres, sendo as outras duas Armanda Álvaro Alberto e Cecília Meireles.

 

 

A produção existente em história da educação sobre a educadora

Apesar de ser um nome de destaque na historiografia da educação/psicologia, amplamente citado, não há pesquisas de envergadura que se debrucem especificamente sobre a trajetória e atuação profissional de Noemy Rudolfer enquanto tema privilegiado. Para citar apenas alguns trabalhos, Noemy consta como um dos sujeitos contemplados no Dicionário de Educadores do Brasil, em texto escrito por Warde (2002). Também aparece no Dicionário Biográfico da Psicologia no Brasil (Campos, 2001) e em Elas, as pioneiras do Brasil (Costa, 2005). Ainda, é tratada na tese de doutorado de Moraes (2007) como uma das três mulheres signatárias do Manifesto de 1932. No trabalho de fôlego de Golombek (2016), no qual a autora compila informações sobre a história da Escola Caetano de Campos, Noemy também tem seu espaço. Tais trabalhos vêm evidenciar a relevância de Noemy, apesar de tratarem apenas parcialmente sua trajetória e contribuições. Portanto, há várias lacunas, dados divergentes e pontos nebulosos sobre sua trajetória que merecem ser explorados, tais como as atividades que desenvolveu no exterior ou mesmo em diferentes regiões do Brasil, participando de congressos, enquanto aluna ou ministrando cursos, entre tantos outros aspectos de sua atuação que revelam várias de suas facetas.

 

Palavras-chave: Psicologia educacional; Formação de professores; Escola Nova.

 

Bibliografia:

 

Campos, R. H. de F. (2001). Dicionário biográfico da psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago.

 

Costa, H. C. B. (2005). Elas, as pioneiras do Brasil: a memorável saga dessas mulheres. São Paulo: Scortecci.

 

Moraes, J. D. (2007). Signatárias do manifesto de 1932: trajetórias e dilemas. 386 f. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Estadual de Campinas.

 

Golombek, P. (2016). Caetano de Campos: a escola que mudou o Brasil. São Paulo: EDUSP.

Rabelo, R. S. (2016). Destinos e trajetos: Edward Lee Thorndike e John Dewey na formação matemática do professor primário no Brasil (1920-1960). 285 p. Tese de Doutorado em Educação. São Paulo: Universidade de São Paulo. Acesso em 27 fev. 2017. Disponível em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-15082016-154137/pt-br.php

 

Warde, M. J. (2002). Noemy da Silveira Rudolfer. In: Fávero, Maria de Lourdes de Albuquerque; Britto, Jader de Medeiros (orgs.). Dicionário de educadores no Brasil: da colônia aos dias atuais. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora UFRJ/MEC-Inep-Comped.

 

 

Arquivos:

Centro de Memória e Acervo Histórico/CRE Mario Covas/EFAP

Centro de Memória do Instituto de Psicologia da USP

 

Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC)

 

Fundação Biblioteca Nacional – Hemeroteca Digital

 

Autoria: Rafaela Silva Rabelo

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